TEXTOS PATRÍSTICOS: QUARTA SEMANA DA QUARESMA
Domingo
Segunda
leitura
Dos
Tratados sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo (Séc.V)
Cristo é
o caminho para a luz, a verdade para a vida
Diz o Senhor: Eu sou a luz do mundo. Quem me
segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12). Estas
breves palavras contêm um preceito e uma promessa. Façamos o que o Senhor
mandou, para esperarmos sem receio receber o que prometeu, e não nos vir ele a
dizer no dia do Juízo: “Fizeste o que mandei para esperares agora alcançar o
que prometi?” Responder-te-á: “Disse quem e seguisses”. Pediste um conselho de
vida. De que vida, senão daquela sobre a qual foi dito: Em vós está a fonte
da vida? (Sl 35,10). Por conseguinte, façamos agora o que nos manda,
sigamos o Senhor, e quebremos os grilhões que nos impedem de segui-lo. Mas quem
é capaz de romper tais amaras se não for ajudado por aquele de quem se disse: Quebrastes
os meus grilhões? (Sl 115,7). E também noutro salmo: É o Senhor quem
liberta os cativos, o Senhor faz erguer-se o caído (Sl 145,7.8).
Somente os que assim são libertados e erguidos
poderão seguir aquela luz que proclama: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue,
não andará nas trevas. Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos olhos,
irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir a vista ao cego
de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada
com terra. Cegos também nós nascemos de Adão, e precisamos de ser iluminados
pelo Senhor. Ele misturou sua saliva com a terra: E a Palavra se fez carne e
habitou entre nós (Jo 1,14). Misturou sua saliva com a terra, como fora
predito: A verdade brotou da terra (cf. Sl 84,12). E ele próprio disse: Eu
sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6).
A verdade nos saciará quando o virmos face a face,
porque também isso nos foi prometido. Pois quem ousaria esperar, se Deus não
tivesse prometido ou dado?
Veremos face a face, como diz o Apóstolo: Agora,
conheço apenas de modo imperfeito; agora, nós vemos num espelho, confusamente,
mas, então, veremos face a face (1Cor 13,12). E o apóstolo João diz numa de
suas cartas: Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se
manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos
semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é (1Jo 3,2). Eis a grande
promessa!
Se o amas, segue-o! “Eu o amo, dizes tu, mas por
onde o seguirei?” Se o Senhor te houvesse dito: “Eu sou a verdade e a vida”, tu
que desejas a verdade e aspiras à vida, certamente procurarias o caminho para
alcançá-la e dirias a ti mesmo: “Grande coisa é a verdade, grande coisa é a
vida! Ah, se fosse possível à minha alma encontrar o caminho para lá chegar!”
Queres conhecer o caminho? Ouve o que o Senhor diz
em primeiro lugar: Eu sou o caminho. Antes de dizer aonde deves ir, mostrou por
onde deves seguir. Eu sou, diz ele, o caminho. O caminho para onde? A verdade e
a vida. Disse primeiro por onde deves seguir e logo depois indicou para onde
deves ir. Eu sou o caminho, eu sou a verdade, eu sou a vida. Permanecendo junto
do Pai, é verdade e vida; revestindo-se de nossa carne, tornou-se o caminho.
Não te é dito: “Esforça-te por encontrar o caminho,
para que possas chegar à verdade e à vida”. Decerto não é isso que te dizem.
Levanta-te, preguiçoso! O próprio caminho veio ao teu encontro e te despertou
do sono em que dormias, se é que chegou a despertar-te; levanta-te e anda!
Talvez tentes andar e não consigas, porque te
doemos pés. Por que estão doendo? Não será pela dureza dos caminhos que a
avareza te levou a percorrer? Mas o Verbo de Deus curou também os coxos. “Eu
tenho os pés sadios, respondes, mas não vejo o caminho”. Lembra-te que ele
também deu a vista aos cegos.
Segunda
feira
Segunda
leitura
Das
Homilias sobre o Levítico, de Orígenes, presbítero (Séc.III)
Cristo,
sumo-sacerdote, é a nossa propiciação
Uma vez por ano o sumo sacerdote, afastando-se do
povo, entra no lugar onde estão o propiciatório, os querubins, a arca da
aliança e o altar do incenso; ninguém pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote.
Mas consideremos o nosso verdadeiro sumo sacerdote,
o Senhor Jesus Cristo. Tendo assumido a natureza humana, ele estava o ano todo
com o povo – aquele ano do qual ele mesmo disse: O Senhor enviou-me para
anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do Senhor e o dia do
perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no dia da
expiação, ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de cumprir
sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-lo propício ao
gênero humano e interceder por todos os que nele crêem.
Conhecendo esta propiciação que reconcilia os
homens com o Pai, diz o apóstolo João: Meus filhinhos escrevo isto para que não
pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus
Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados (1Jo
2,1-2). Paulo lembra igualmente esta propiciação, ao falar de Cristo: Deus o
destinou a ser, por seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a
realidade da fé (Rm 3,25). Por isso, o dia da expiação continua para nós
até o fim do mundo.
Diz a palavra divina: Na presença do Senhor porá
o incenso sobre o fogo, de modo que a nuvem de incenso cubra o propiciatório
que está sobre a arca da aliança; assim não morrerá. Em seguida, pegará um
pouco do sangue do bezerro, e com o dedo, aspergirá o lado oriental do propiciatório
(cf. Lv 16,13-14). Ensinou assim aos antigos como havia de ser celebrado o
rito de propiciação, oferecido a Deus em favor dos homens. Tu, porém, que te
aproximaste de Cristo, o verdadeiro sumo sacerdote que, como seu sangue, tornou
Deus propício para contigo e te reconciliou com o Pai, não fixes tua atenção no
sangue das vítimas antigas. Procura antes conhecer o sangue do Verbo e ouve o
que ele mesmo te diz: Isto é o meu sangue, que será derramado por vós, para
remissão dos pecados (cf. Mt 26,28).
Também a aspersão para o lado do oriente temo seu
significado. Do oriente nos vem a propiciação. É de lá que vem aquele homem
cujo nome é Oriente e que foi constituído mediador entre Deus e os homens.
Por esse motivo és convidado a olhar sempre para o
oriente, de onde nasce para ti o Sol da justiça, de onde a luz se levanta sobre
ti, para que nunca andes nas trevas, nem te surpreenda nas trevas o último dia;
a fim de que a noite e a escuridão da ignorância não caiam sorrateiramente
sobre ti, mas vivas sempre na luz da sabedoria, no pleno dia da fé e no fulgor
da caridade e da paz.
Terça
feira
Segunda
leitura
Dos
Sermões de São Leão Magno, papa (Séc.V)
O bem da
caridade
Diz o Senhor no Evangelho de João: Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros (Jo
13,35). E também se lê numa Carta do mesmo Apóstolo: Caríssimos, amemo-nos
uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus
e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor
(1Jo 4,7-8).
Examine-se a si mesmo cada um dos fiéis, e procure
discernir com sinceridade os mais íntimos sentimentos de seu coração. Se
encontrar na sua consciência algo que seja fruto da caridade, não duvide que
Deus está com ele; mas se esforce por tornar-se cada vez mais digno de tão
grande hóspede, perseverando com maior generosidade na prática das obras de
misericórdia.
Se Deus é amor, a caridade não deve ter fim, porque
a grandeza de Deus não tem limites.
Para praticar o bem da caridade, amados filhos,
todo tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma, a isso nos exortam de
modo especial. Se desejamos celebrar a Páscoa do Senhor com o espírito e o
corpo santificados, esforcemo-nos o mais possível por adquirir essa virtude que
contém em si todas as outras e cobre a multidão dos pecados.
Ao aproximar-se a celebração deste mistério que
ultrapassa todos os outros, o mistério do sangue de Jesus Cristo que apagou as
nossas iniquidades, preparemo-nos em primeiro lugar mediante o sacrifício
espiritual da misericórdia; o que a bondade divina nos concedeu, demo-lo também
nós àqueles que nos ofenderam.
Seja, neste tempo, mais larga a nossa generosidade
para com os pobres e todos os que sofrem, a fim de que os nossos jejuns possam
saciar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes que dão graças a Deus.
Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os seus
pobres, pois nesta solicitude misericordiosa ele reconhece a imagem de sua
própria bondade.
Não temamos que essas despesas diminuam nossos
recursos, porque a benevolência é uma grande riqueza e não podem faltar meios
para a generosidade onde Cristo alimenta e é alimentado. Em tudo isso, intervém
aquela mão divina que ao partir o pão o faz crescer, e ao reparti-lo
multiplica-o.
Quem dá esmola, faça-o com alegria e confiança,
porque tanto maior será o lucro quanto menos guardar para si, conforme diz o
santo Apóstolo Paulo: Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará pão
como alimento, ele mesmo multiplicará vossas sementes e aumentará os frutos da
vossa justiça (2Cor 9,10), em Cristo Jesus, nosso Senhor, que vive e reina
com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.
Quarta
feira
Segunda
leitura
Das
Cartas de São Máximo, o Confessor, abade (Séc.VII)
A
misericórdia do Senhor para com os pecadores que se convertem
Os pregadores da verdade e os ministros da graça
divina, todos os que, desde o princípio até os nossos dias, cada um há seu
tempo, expuseram a vontade salvífica de Deus, dizem que nada lhe é tão
agradável e conforme o seu amor como a conversão dos homens a ele com sincero
arrependimento.
E para dar a maior prova da bondade divina, o Verbo
de Deus Pai (ou melhor, o primeiro e único sinal de sua bondade infinita), num
ato de humilhação que nenhuma palavra pode explicar, num ato de condescendência
para com a humanidade, dignou-se habitar no meio de nós, fazendo-se homem. E
realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, seus
inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo
à felicidade eterna que havíamos perdido.
O Verbo de Deus não curou apenas nossas
enfermidades com o poder dos milagres. Tomou sobre si as nossas fraquezas,
pagou a nossa dívida mediante o suplício da cruz, libertando-nos dos nossos
muitos e gravíssimos pecados, como se ele fosse o culpado, quando na verdade
era inocente de qualquer culpa. Além disso, com muitas palavras e exemplos,
exortou-nos a imitá-lo na bondade, na compreensão e na perfeita caridade fraterna.
Por isso dizia o Senhor: Eu não vim chamar os
justos, mas sim os pecadores para a conversão (Lc 5,32). E também: Aqueles
que têm saúde não precisam de médicos, mas sim os doentes (Mt 9,12). Disse
ainda que viera procurar ao velha desgarrada e que fora enviado às ovelhas
perdidas da casa de Israel.
Do mesmo modo, pela parábola da dracma perdida, deu
a entender mais veladamente que viera restaurar no homem a imagem divina que
estava corrompida pelos mais repugnantes pecados. E afirmou: Em verdade eu
vos digo, haverá alegria no céu por um só pecador que se converte (cf. Lc
15,7).
Por esse motivo, contou a parábola do bom
samaritano: àquele homem que caíra nas mãos dos ladrões, e fora despojado de
todas as vestes, maltratado e deixado semimorto, atou-lhe as feridas, tratou-as
com vinho e óleo e, tendo colocado em seu jumento, deixou-o numa hospedaria
para que cuidassem dele; pagou o necessário para o seu tratamento e ainda
prometeu dar na volta, o que porventura se gastasse a mais.
Mostrou-nos ainda a condescendência e bondade do
pai que recebeu afetuosamente o filho pródigo que voltava como o abraçou porque
retornara arrependido, revestiu-o de novo com as insígnias de sua nobreza
familiar e esqueceu todo o mal que fizera. Pela mesma razão, reconduziu ao
redil a ovelhinha que se afastara das outras cem ovelhas de Deus e fora
encontrada vagueando por montes e colinas. Não lhe bateu nem a ameaçou nem a
extenuou de cansaço; pelo contrário, colocando-a em seus próprios ombros, cheio
de compaixão, trouxe-a sã e salva para o rebanho.
E deste modo exclamou: Vinde a mim todos vós que
estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei
descanso. Tomai sobre vós o meu jugo (Mt 11,28-29). Ele chamava de jugo os
mandamentos ou a vida segundo os preceitos evangélicos; e quanto ao peso, que
pela penitência parecia ser grande e mais penoso, acrescentou: O meu jugo é
suave e o meu fardo é leve (Mt 11,30).
Outra vez, querendo nos ensinar a justiça e a
bondade de Deus exortavam-nos com estas palavras: Sede santos, sede
perfeitos, sede misericordiosos, como também vosso Pai celeste é misericordioso
(cf. Mt 5,48; Lc 6,36). E: Perdoai, e sereis perdoados (Lc 6,37). Tudo
quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles (Mt 7,12).
Quinta
feira
Segunda
leitura
Dos
Sermões de São Leão Magno, papa (Séc.V)
Contemplemos
a paixão do Senhor
Quem venera realmente a paixão do Senhor deve
contemplar de tal modo, com os olhos do coração, Jesus crucificado, que
reconheça na carne do Senhor a sua própria carne.
Trema a criatura perante o suplício do seu
Redentor, quebrem-se as pedras dos corações infiéis e saiam, vencendo todos os
obstáculos, aqueles que jaziam debaixo de seus túmulos. Apareçam também agora
na cidade santa, isto é, na Igreja de Deus, como sinais da ressurreição futura
e realize-se nos corações o que um dia se realizará nos corpos.
A nenhum pecador é negada a vitória da cruz e não
há homem a quem a oração de Cristo não ajude. Se ela foi útil para muitos dos
que o perseguiam, quanto mais não ajudará os que a ele se convertem?
Foi eliminada a ignorância da incredulidade, foi
suavizada a aspereza do caminho, e o sangue sagrado de Cristo extinguiu o fogo
daquela espada que impedia o acesso ao reino da vida. A escuridão da antiga noite
cedeu lugar à verdadeira luz.
O povo cristão é convidado a gozar as riquezas do
paraíso, e para todos os batizados está aberto o caminho de volta à pátria
perdida, desde que ninguém queira fechar para si próprio aquele caminho que se
abriu também à fé do ladrão arrependido.
Evitemos que as preocupações desta vida nos
envolvam na ansiedade e no orgulho, de tal modo que não procuremos, com todo o
afeto do coração, conformar-nos a nosso Redentor na perfeita imitação de seus
exemplos. Tudo o que ele fez ou sofreu foi para a nossa salvação, a fim de que
todo o Corpo pudesse participar da virtude da Cabeça.
Aquela sublime união da nossa natureza com a sua
divindade, pela qual o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14),
não exclui ninguém da sua misericórdia senão aquele que recusa acreditar. Como
poderá ficar fora da comunhão com Cristo quem recebe aquele que assumiu a sua
própria natureza e é regenerado pelo mesmo Espírito por obra do qual nasceu
Jesus? Quem não reconhece nele as fraquezas próprias da condição humana? Quem
não vê que alimentar-se, buscar o repouso do sono, sofrer angústia e tristeza,
derramar lágrimas de compaixão, eram próprios da condição de servo?
Foi precisamente para curar a nossa natureza das
antigas feridas e purificá-la das manchas do pecado, que o Filho Unigênito de
Deus se fez também Filho do Homem, de modo que não lhe faltasse nem a
humanidade em toda a sua realidade, nem a divindade em sua plenitude.
É nosso, portanto, o que esteve morto no sepulcro,
o que ressuscitou ao terceiro dia e o que subiu para a glória do Pai, no mais
alto dos céus. Se andarmos pelos caminhos de seus mandamentos e não nos
envergonharmos de proclamar tudo o que ele fez pela nossa salvação na humildade
do seu corpo, também nós teremos parte na sua glória. Então se cumprirá
claramente o que prometeu: Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor
diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que
está nos céus (Mt 10,32).
Sexta
feira
Segunda
leitura
Das
Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo (Séc.IV)
O
mistério pascal reúne na unidade da fé os que se encontram fisicamente afastados
São muito belos, meus irmãos,
passar de uma para outra festa, de uma oração para outra, de uma solenidade
para outra solenidade. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o
anúncio da santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado.
Do seu alimento nos sustentamos como de um manjar
de vida, e a nossa alma se delicia como Sangue precioso de Cristo como numa
fonte. E, contudo, temos sempre sede desse Sangue, sempre o desejamos
ardentemente. Mas o nosso Salvador está perto daqueles que têm sede, e na sua
bondade convida todos os corações sedentos para o grande dia da festa, dizendo:
Se alguém tem sede, venha a mim, e beba (Jo 7,37).
Sempre que nos aproximamos dele para beber, ele nos
mata a sede; e sempre que pedimos, podemos nos aproximar dele. A graça própria
desta celebração festiva não se limita apenas a um determinado momento; nem
seus raios fulgurantes conhecem ocaso, mas estão sempre prontos para iluminar
as almas de todos que o desejam. Exerce contínua influência sobre aqueles que
já foram iluminados e se debruçam dia e noite sobre a Sagrada Escritura. Estes
são como aquele homem que o salmo proclama feliz, quando afirma: Feliz
aquele homem que não anda conforme o conselho dos perversos; que não entra no
caminho dos malvados, nem junto aos zombadores vai sentar-se; mas encontra seu
prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar (Sl 1,1-2).
Por outro lado, amados irmãos, o Deus que desde o
princípio instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada
ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte seu próprio Filho, pelo
mesmo motivo nos proporciona esta santa solenidade que não tem igual no decurso
do ano. Esta festa nos sustenta no meio das aflições que encontramos neste
mundo. Por ela Deus nos concede a alegria da salvação e nos faz amigos uns dos
outros. E nos conduz a uma única assembléia, unindo espiritualmente a todos em
todo lugar, concedendo-nos orar em comum e render comuns ações de graças, como
se deve fazer em toda festividade. É este um milagre de sua bondade: congrega
nesta festa os que estão longe e reúne na unidade da fé os que, porventura, se
encontram fisicamente afastados.
Sábado
Segunda
leitura
Da
Constituição pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do
Concílio Vaticano II (Séc.XX)
Toda a
atividade humana deve ser purificada no mistério pascal
A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência
dos séculos, ensina à família humana que o progresso, grande bem para o homem,
traz também consigo uma enorme tentação. De fato, quando a hierarquia de
valores é alterada e o bem e o mal se misturam, os indivíduos e os grupos
consideram somente seus próprios interesses e não o dos outros.
Por esse motivo, o mundo deixa de ser o lugar da
verdadeira fraternidade, enquanto o aumento do poder da humanidade ameaça
destruir o próprio gênero humano.
Se alguém pergunta como pode ser vencida essa
miserável situação, os cristãos afirmam que todas as atividades humanas,
quotidianamente postas em perigo pelo orgulho do homem e o amor desordenado de
si mesmo, precisam ser purificadas e levadas à perfeição por meio da cruz e
ressurreição de Cristo.
Redimido por Cristo e tornado nova criatura no
Espírito Santo, o homem pode e deve amar as coisas criadas pelo próprio Deus.
Com efeito, recebe-as de Deus; olha-as e respeita-as como dons vindos das mãos
de Deus.
Agradecendo por elas ao divino Benfeitor e usando e
fruindo das criaturas em espírito de pobreza e liberdade, é introduzido na
verdadeira pose do mundo, como se nada tivesse e possuísse: Tudo é vosso,
mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus (1Cor 3,22-23).
O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram
feitas, que se encarnou e veio habitar na terra dos homens, entrou como homem
perfeito na história do mundo, assumindo-a e recapitulando-a em si. Ele nos
revela que Deus é amor (1Jo 4,8) e ao mesmo tempo nos ensina que a lei
fundamental da perfeição humana, e, portanto, da transformação do mundo, é o
novo mandamento do amor.
Aos que acreditam no amor de Deus, ele dá a certeza
de que o caminho do amor está aberto a todos os homens e não é inútil o esforço
para instaurar uma fraternidade universal. Adverte-nos também que esta caridade
não deve ser praticada somente nas grandes ocasiões, mas, antes de tudo, nas
circunstâncias ordinárias da vida.
Sofrendo a morte por todos nós pecadores, ele nos
ensina com o seu exemplo que devemos também carregar a cruz que a carne e o
mundo impõem sobre os ombros dos que procuram a paz e a justiça.
Constituído Senhor por sua ressurreição, Cristo, a
quem foi dado todo poder no céu e na terra, age nos corações dos homens pelo
poder de seu Espírito. Não somente suscita o desejo do mundo futuro, mas anima,
purifica e fortalece por esse desejo os propósitos generosos com que a família
humana procura melhorar suas condições de vida e submeter para este fim a terra
inteira.
São diversos, porém, os dons do Espírito. Enquanto
chama alguns para testemunharem abertamente o desejo da morada celeste e
conservarem vivo esse testemunho na família humana, chama outros para se
dedicarem ao serviço terrestre dos homens e prepararem com esse ministério a
matéria do reino dos céus.
A todos, porém, liberta para que, renunciando ao
egoísmo e empregando todas as energias terrenas em prol da vida humana, se
lancem decididamente para as realidades futuras, quando a própria humanidade se
tornará uma oferenda agradável a Deus.
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