Papa Francisco: Carta aos Jovens - Texto integral
"Não tenhais medo de escutar o Espírito que
vos sugere escolhas ousadas" – diz o Papa na Carta aos jovens para a
apresentação, nesta sexta-feira (13/01),do documento preparatório do Sínodo dos
Bispos sobre as vocações, a ser realizado em outubro de 2018 sobre o tema
"Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
A seguir, o texto integral da Carta:
Caríssimos
jovens!
É-me grato anunciar-vos que em outubro de 2018 se celebrará o Sínodo dos Bispos
sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional». Eu quis que vós
estivésseis no centro da atenção, porque vos trago no coração. Exatamente hoje
é apresentado o Documento preparatório, que confio também a vós como «bússola»
ao longo deste caminho.
Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai da tua terra, deixa
a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te mostrar!» (Gn
12, 1). Hoje estas palavras são dirigidas também a vós: são palavras de um Pai
que vos convida a «sair» a fim de vos lançardes em direção de um futuro
desconhecido, mas portador de realizações seguras, ao encontro do qual Ele
mesmo vos acompanha. Convido-vos a ouvir a voz de Deus que ressoa nos vossos
corações através do sopro do Espírito Santo.
Quando Deus disse a Abraão «Sai!», o que é que lhe queria dizer? Certamente,
não para fugir dos seus, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma
provocação, a fim de que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é
para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna, à
qual vós aspirais profundamente e que desejais construir até às periferias do
mundo?
Mas hoje, infelizmente, o «Sai!» adquire inclusive um significado diferente. O
da prevaricação, da injustiça e da guerra. Muitos de vós, jovens, estão
submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir da sua terra natal.
O seu clamor sobe até Deus, como aquele de Israel, escravo da opressão do Faraó
(cf. Êx 2, 23).
Desejo recordar-vos também as palavras que certo dia Jesus dirigiu aos
discípulos, que lhe perguntavam: «Rabi, onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e
vede!» (cf. Jo 1, 38-39). Jesus dirige o seu olhar também a vós, convidando-vos
a caminhar com Ele. Caríssimos jovens, encontrastes este olhar? Ouvistes esta
voz? Sentistes este impulso a pôr-vos a caminho? Estou convicto de que, não
obstante a confusão e o atordoamento deem a impressão de reinar no mundo, este
apelo continua a ressoar no vosso espírito para o abrir à alegria completa.
Isto será possível na medida em que, inclusive através do acompanhamento de
guias especializados, souberdes empreender um itinerário de discernimento para
descobrir o projeto de Deus na vossa vida. Mesmo quando o vosso caminho estiver
marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico de misericórdia estende a sua
mão para vos erguer.
Na inauguração da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia,
perguntei-vos várias vezes: «As coisas podem mudar?». E juntos, vós gritastes
um «Sim!» retumbante. Aquele brado nasce do vosso jovem coração, que não
suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descartável, nem ceder
à globalização da indiferença. Escutai aquele clamor que provém do vosso
íntimo! Mesmo quando sentirdes, como o profeta Jeremias, a inexperiência da
vossa jovem idade, Deus encoraja-vos a ir para onde Ele vos envia: «Não deves
ter [...] porque Eu estarei contigo para te libertar» (cf. Jr 1, 8).
Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à
vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere
escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis
para seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz,
da vossa sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas
críticas. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o
chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades que, antes de cada
decisão importante, consultassem também os jovens porque «muitas vezes é
exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução» (Regra de São
Bento III, 3).
Assim, inclusive através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos
queremos, ainda mais, «contribuir para a vossa alegria» (2 Cor 1, 24).
Confio-vos a Maria de Nazaré, uma jovem como vós, à qual Deus dirigiu o seu
olhar amoroso, a fim de que vos tome pela mão e vos guie para a alegria de um
«Eis-me!» pleno e generoso (cf. Lc 1, 38).
Com afeto paterno,
FRANCISCO
FONTE:
RADIO VATICANO
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