Reflexão litúrgica na Solenidade da Epifania do Senhor
A primeira leitura faz referência à situação de luto em que vive o
Povo da Antiga Aliança e o anúncio de que deve se despir dessas vestes e
trajar as da alegria porque o Senhor virá a ele e o iluminará com sua
própria Luz. Será o povo luz, que iluminará os demais.
No Evangelho, vemos representantes de povos estrangeiros vindos até
os descendentes de Abraão, guiados por uma luz diferente e buscando
entre eles o novo rei.
Acontece que os magos, ao buscarem o novo rei, vão a Jerusalém e até
Herodes. Apesar de intuírem e buscarem o novo, eles seguem os costumes
antigos. Mas Deus lhes dá, além da intuição e sensibilidade, o dom do
discernimento. Quando eles conversam com o rei Herodes, percebem que ali
está um assassino, um opressor, um autêntico títere dos imperadores
romanos. Ora, o novo rei é um chefe que apascentará o povo, que o
defenderá dos lobos, bem diferente de Herodes.
Também o dom do discernimento fará com que percebam que não poderão
encontrá-lo em Jerusalém, a cidade do poder, onde estão os sacerdotes
coniventes com uma ideologia conservadora e opressora.
As profecias falam na cidade de Davi, Belém. É bem menor que a
capital, mas possui a graça de ter sido a terra do grande rei, do jovem
pastor, oriundo de uma família pobre. Os magos seguem as profecias e o
conselho interesseiro do rei e colocam-se de novo na estrada. Nesse
momento em que estão em busca, novamente surge a estrela e os conduz a
Belém. Encontram uma criança, com toda sua fragilidade, junto aos seus
pais, cidadãos pobres.
Essa intuição que os tirou da acomodação de casa, que os colocou na
estrada, que os guiou como o brilho de uma estrela, que não os abandonou
junto ao rei Herodes, que novamente os conduziu até Belém, essa Luz é a
manifestação do próprio Deus. Mas a iluminação não parou aí, ela os fez
ver que o novo rei deveria ser novo em todos os sentidos, inclusive no
modo novo de reinar. Enquanto os reis tradicionais reinavam sendo
servidos pelos súditos, este iria servir seus subalternos.
O novo rei era pobre e filho de uma família pobre. Suas visitas eram
pessoas simples, desclassificadas aos olhos do alto clero de Jerusalém.
Um poder novo surgia e vinha dos fracos, dos humildes, mas esse poder
contava com uma força diferente, uma força que impulsiona os corações e é
guiada pela Sabedoria.
Ao mesmo tempo o Povo da Aliança deixa de ser um povo marcado pelo
mesmo sangue e pela mesma cultura e passa a ser composto por aquelas
pessoas que aceitam os ditames desse novo rei: amor, perdão,
simplicidade de vida, generosidade e todos os valores contidos nos
Evangelhos.
Peçamos ao Senhor que modifique nosso modo velho e viciado de ser,
pensar e de agir. Acreditemos – pois é um fato – que a salvação não
virá dos poderosos, nem do dinheiro, nem da sociedade consumista.
Ela virá daquele que possui Luz, brilho próprio, daquele que é capaz
de dar a vida a si mesmo, porque é a própria Vida, daquele que tem poder
porque ama e serve, porque é o Amor.
Fonte: Vatican News
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