No Santuário de Guadalupe, papa Francisco pede paz ao mundo
Milhares de peregrinos participaram
da missa, na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, no sábado 13 de
fevereiro. Por ocasião da visita pastoral do papa Francisco, a cerimônia foi
acompanhada, também, pelo lado de fora do templo, devido à quantidade de
pessoas. Antes de iniciar a liturgia, o papa pediu para permanecer um momento,
a sós, diante da imagem de Guadalupe, para oração silenciosa.
Na
homilia, Francisco meditou a passagem do Evangelho de Lucas, sobre o encontro
de Maria com Isabel. Na reflexão, fez referência à aparição de Nossa Senhora ao
índio Juanito, em Guadalupe. “Escutar esta passagem do Evangelho nesta casa tem
um sabor especial. Maria, a mulher do sim, também quis visitar os habitantes
desta terra da América na pessoa do índio São Juan Diego”, disse.
Confira íntegra do texto:
Homilia papa Francisco – Santuário de Guadalupe
“Acabamos
de escutar como Maria foi visitar a prima Isabel. Sem demora nem hesitação,
apressadamente, vai fazer companhia à sua parente que estava nos últimos meses
de gravidez.
O encontro
com o anjo não deteve Maria, pois não Se sentiu privilegiada, nem no dever de
Se afastar dos seus. Pelo contrário, reavivou e pôs em marcha uma atitude pela
qual Maria é e será sempre lembrada: a mulher do sim, um sim de entrega a Deus
e, ao mesmo tempo, um sim de entrega aos seus irmãos. É o sim que A pôs em
marcha para dar o melhor de Si mesma, caminhando ao encontro dos outros.
Escutar
esta passagem do Evangelho nesta casa tem um sabor especial. Maria, a mulher do
sim, também quis visitar os habitantes desta terra da América na pessoa do
índio São Juan Diego. Assim como se moveu pelas estradas da Judeia e da
Galileia, da mesma forma alcançou Tepeyac, com as suas roupas, usando a sua
língua, para servir esta grande nação. Assim como acompanhou a gravidez de
Isabel, acompanhou e acompanha a gestação desta abençoada terra mexicana. Assim
como Se apresentou ao humilde Juanito, de igual modo continua a fazer-se
presente junto de todos nós, especialmente daqueles que sentem, como ele, que
«não valem nada» (cf. Nican Mopohua, 55). Aquela escolha particular, digamos
preferencial, de Juanito não foi contra ninguém, mas a favor de todos. Juan, o
índio humilde que a si mesmo se designava como «mecapal, cacaxtle, cauda, asa,
necessitado ele próprio de ser conduzido» (cf. ibidem), tornou-se «o
mensageiro, muito digno de confiança».
Naquela
madrugada de Dezembro de 1531, tinha lugar o primeiro milagre que se tornará
depois a memória viva de tudo o que guarda este Santuário. Naquele amanhecer,
naquele encontro, Deus despertou a esperança de seu filho Juan, a esperança do
seu povo. Naquele amanhecer, Deus despertou e desperta a esperança dos mais
humildes, dos atribulados, dos deslocados e marginalizados, de quantos sentem
que não têm um lugar digno nestas terras. Naquele amanhecer, Deus aproximou-Se
e aproxima-Se do coração atribulado mas resistente de tantas mães, pais, avós
que viram os seus filhos partir, viram-nos perdidos ou mesmo arrebatados pela
criminalidade.
Naquele
amanhecer, Juanito experimenta na sua vida o que é a esperança, o que é a
misericórdia de Deus. É escolhido para vigiar, cuidar, proteger e incentivar a
construção deste Santuário. Mais do que uma vez, disse à Virgem que ele não era
a pessoa certa; antes, se Ela queria levar por diante aquela obra, deveria
escolher outros, porque ele não tinha instrução, não era formado, nem pertencia
ao grupo daqueles que poderiam realizá-la. Maria, decididamente – com a decisão
que nasce do coração misericordioso do Pai –, não aceita: ele seria o seu
mensageiro.
Deste
modo consegue manifestar algo difícil de expressar, uma verdadeira e própria
imagem transparente de amor e de justiça: na construção do outro santuário – o
santuário da vida, o das nossas comunidades, sociedades e culturas –, ninguém
pode ser deixado de fora. Todos somos necessários, sobretudo aqueles que
normalmente não contam porque não estão à «altura das circunstâncias» ou não
«contribuem com o capital necessário» para a sua construção. O santuário de
Deus é a vida dos seus filhos, de todos e em todas as condições, especialmente
dos jovens sem futuro, expostos a uma infinidade de situações dolorosas e
arriscadas, e dos idosos sem reconhecimento, esquecidos em tantos cantos. O
santuário de Deus são as nossas famílias que precisam do mínimo necessário para
se poderem formar e sustentar. O santuário de Deus é o rosto de tantos que
encontramos no nosso caminho...
Ao
visitar este Santuário, pode-nos acontecer o mesmo que sucedeu a Juan Diego:
olhar a Mãe a partir das nossas dores, medos, desesperos, tristezas, e
dizer-Lhe: «Que posso dar eu, se não sou uma pessoa instruída?». Fixamos a Mãe,
com olhos que dizem: «Há tantas situações que nos tiram a força, que nos fazem
sentir que não há espaço para a esperança, para a mudança, para a
transformação».
Por
isso, pode fazer-nos bem um pouco de silêncio e olhá-La; olhá-La intensamente e
com calma, dizendo-Lhe como aquele outro filho que A amava muito:
«Olhar-Te
simplesmente - Mãe -,
deixando
aberto só o olhar;
Olhar-Te
de cima a baixo, sem Te dizer nada,
e
dizer-Te tudo, mudo e reverente.
Não
turbar o vento da tua fronte;
só
abrigar a minha solidão violada
nos
teus olhos de Mãe enamorada
e no
teu ninho de terra transparente.
As
horas precipitam; fustigados
mordem
os homens insensatos a imundície
da
vida e da morte, com os seus rumores.
Olhar-Te,
Mãe; contemplar-Te apenas,
o
coração silencioso na tua ternura,
no
teu casto silêncio de açucenas» (Hino litúrgico).
E,
enquanto ficamos a contemplá-La, ouvir que nos repete mais uma vez: «Que tens,
meu filho, o menor de todos? O que é que entristece o teu coração?» (cf. Nican
Mopohua, 107.108) «Porventura não estou aqui Eu, Eu que tenho a honra de ser
tua mãe?» (ibid., 119).
Ela
diz-nos que tem a «honra» de ser nossa mãe. Isto dá-nos a certeza de que as
lágrimas daqueles que sofrem, não são estéreis. São uma oração silenciosa que
sobe até ao céu e que, em Maria, encontra sempre lugar sob o seu manto. N’Ela e
com Ela, Deus faz-Se irmão e companheiro de estrada, carrega conosco as cruzes
para não deixar as nossas dores esmagar-nos.
Porventura
não sou tua mãe? Não estou Eu aqui? Não te deixes vencer pelas tuas dores,
pelas tuas tristezas: diz-nos Ela. Hoje, volta a enviar-nos; hoje repete para
nós: Sê o meu mensageiro, sê o meu enviado para construir muitos santuários novos,
acompanhar tantas vidas, consolar tantas lágrimas. Basta que caminhes pelas
estradas do teu bairro, da tua comunidade, da tua paróquia como meu mensageiro;
levanta santuários compartilhando a alegria de saber que não estamos sozinhos,
que Ela está conosco. Sê o meu mensageiro – diz-nos – dando de comer aos
famintos, de beber aos sedentos; oferece um lugar aos necessitados, veste os
nus e visita os doentes. Socorre os prisioneiros, perdoa a quem te fez mal,
consola quem está triste, tem paciência com os outros e sobretudo implora e
invoca o nosso Deus.
Porventura
não sou a tua mãe? Porventura não estou Eu aqui? – diz-nos novamente Maria. Vai
construir o meu santuário, ajuda-Me a erguer a vida dos meus filhos, teus
irmãos.
(México, Basílica de Guadalupe, 13 de
Fevereiro de 2016)
CNBB com informações e fotos
da Rádio Vaticano.
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