Sexta 24/03 - O Sim de Jesus
Ante do texto, Salmo 30
Ó
Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito.
Senhor, eu ponho em vós minha esperança;
que eu não fique envergonhado eternamente!
Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu
espírito,
porque vós me salvareis, ó Deus fiel!
Tornei-me o opróbrio do inimigo,
o desprezo e zombaria dos vizinhos,
e objeto de pavor para os amigos;
fogem de mim os que me vêem pela rua.
Os corações me esqueceram como um morto,
e tornei-me como um vaso espedaçado.
A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio,
e afirmo que só vós sois o meu Deus!
Eu entrego em vossas mãos o meu destino;
libertai-me do inimigo e do opressor!
Mostrai serena a vossa face ao vosso servo,
e salvai-me pela vossa compaixão!
Fortalecei os corações, tende coragem,
todos vós que ao Senhor vos confiais!
Na história da Salvação quatros “sim” colaboraram com o
evento pascal. O sim de Deus Pai ao pronunciar o Fiat na criação e toda a obra
se fez, o sim da Virgem Maria ao pronunciar o seu fiat e o
Verbo divino se fez carne (Jo 1,14), o fiat de Jesus ao pronunciar o seu fiat
no momento da “Hora” e a redenção se fez. Este sim do Filho de Deus é no Getsemani,
quando Jesus diz: Pai, seja feita a
tua vontade (Mt 26,42), ele pronuncia o Fiat da redenção; então aparece
o livre consentimento da vontade humana de uma pessoa divina (M. J. Le GUillou). É belo! É santo! É magnífico o
momento da Hora da redenção! hora esta que se prolonga em cada amém professado
no tempo da Igreja. A páscoa do homem se une a páscoa de Deus. Luta e vence
contra o pecado: E assim aconteceu. Enquanto
Deus faz a sua luta em nome dos homens; enquanto homem vence como homem o pecado, mas sem qualquer
pecado, porque é Deus” (N. Cabasilas).Neste sim é cumprido todas as promessas
de Deus que culmina com o evento pascal. “Quanto ao fundamento, ninguém pode colocar
ouro diverso do que foi posto: Jesus Cristo (1Cor 3,11).
O pão nosso de cada dia de Jesus foi fazer a vontade do
Pai e esta culmina na entrega da cruz. Na passagem misteriosa daquele ‘eu’ para
este “tu’ está contido o verdadeiro, definitivo
e universal Êxodo pascal da humanidade. É esta a passagem do verdadeiro
Mar vermelho. Seguir Jesus neste Êxodo significa passar do “eu’ velho para o
“eu” novo, do “eu’ para os outros; deste mundo para o Pai.
Sob esta luz, o
tormento de Jesus mostra-se causados por dois fatos entre si
independentes: a proximidade do pecado e a distancia de Deus. Ele Contemplou a gravidade do pecado na alma
e distanciava o exilava de Deus. Jesus sentiu o pecado do mundo, eram seus
porque assumira livremente.
Caro retirante não basta conhecer com
a inteligência a experiência ontológica de Jesus é necessária a experiência e ouvir o testemunho de quem
encarna tal realidade existencial. É tão profundo, tão elevado que somente é
possível com o dom do Alto.
Os gestos de Jesus no Horto das oliveiras são gestos de
um homem sobressaltado pela angustia mortal: “ajoelhou-se’, “caiu por terra’, “levantou-se para ir aos seus”. Este
caliça é, pois, a paixão, mas não em si mesma, mas enquanto castigo do pecado e fruto do pecado (Sl
75,9; Is 51,17). Ora, Jesus sentiu o pecado como algo próximo, todo o pecado do mundo. Ele assumiu
livremente. ‘Ele carregou os nosso pecados em seu corpo (1Pd2,24); Deus
o fez pecado (2Cor 5,21), tendo se tornado maldição por nós (Gl 3,13).
Conseqüência do pecado afastamento de Deus. Ante tal possibilidade ele grita:
meu Deus, meu Deus porque me abandonastes (Mat 27,47). Que terá acontecido na
alma de Jesus, onde a suprema
santidade de Deus se chocou com a suprema malicia do pecado.
A Epistola aos Hebreus diz de Jesus: pelos sofrimentos suportados aprendeu a obediência (Hb 5.8).
Jesus diz “sim’ para realizar em si mesmo o destino do Servo de Javé (Is
53,4s). O sim de Jesus humano resgata a humanidade toda (Is 53,5.11). O Getsemani
termina não na derrota, mas na vitória. Jesus desceu do seio do Pai por todos e
morreu por todos.
Aquilo que falta a obediência de Cristo: Jesus quer que
nos unamos a ele na obediência ao Pai:
quer que realizemos na nossa carne aquilo que falta a sua obediência, em favor
do seu corpo, que é a Igreja (Cl 1,24). Quem cumpre a vontade de Deus é seu
irmão (Mc 3,35). Ao chegar uma obediência difícil é necessário buscar uma luz
na experiência do Getsemi com Jesus. Na obediência a Deus é que temos o direito
de obedecer aos homens ( Atos 4,19). Obedecer a Deus é tecido de cotidiano da
existência cristã: Cada vez que acolhemos uma boa inspiração, não a uma vontade
da carne, estamos obedecendo a Deus. Não há momento ou ação da vida de um
crente que não possa ser transformado num ato de amorosa obediência ao Pai.
Basta que nos perguntemos com recolhimento: que quer o Senhor que eu faça neste
momento e nesta circunstância! (Jo 8,29). A alegria maior que uma criatura
humana pode dar a Deus é partilhar o destino de Jesus, Servo de Deus.
Meditemos
com a Palavra:
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