Homilia: 2º Domingo da Quaresma - Ano B
Caros
irmãos é tempo de quaresma. Não descuidemos de se dedicar mais tempo a prática
da oração, do jejum e da caridade. São três formas de exercício espirituais que
Deus nos concede no tempo quaresmal para o combate do pecado. Com cristo somos
tentados, mas com ele também vencemos o mal.
Na
presente liturgia a Igreja através das fontes da Palavra de Deus nos chama a
meditar sobre o sentido da transfiguração. Com o olhar sempre fixo em Jesus
transfigurado, os seguidores de Jesus caminha rumo também à transfiguração. O
fim que é fim sem fim nos fortalece na longa caminhada do deserto da vida.
Coragem! Irmão, coragem Irma! vale a pena nossa mortificação corporal porque,
depois virá o esplendor da glória de
Cristo. Se olharmos com cuidado a liturgia de hoje caberia para o tempo da
alegria pascal, do esplendor de luz que a noite santa da páscoa anuncia na
liturgia, mas por que então, a Igreja nos faz meditar sobre a transfiguração
nesta segunda semana da quaresma? Por uma única razão, para dizer que a Glória
de Cristo é o destino dos seus seguidores. Que o seu caminho é caminho dos
discípulos. A glória de Cristo passa pelo caminho da cruz. Sem cruz de Cristo
não há ressurreição, não há salvação, não há perdão dos pecados.
Mas
a liturgia nos faz meditar sobre a atitude do Pai Abra com o seu Filho Isaac e
para com o Deus nosso Pai e fonte de toda paternidade. O que Deus lhe pede?
Responde o texto sagrado, pede o impossível para um verdadeiro pai, pai que
tanto amava o filho, que tanto tinha esperado. Agora a ordem é : “Toma teu
filho único, Isaac, a quem tantos amas, dirige-se á terra de Moriá, e oferece-o
aí em holocausto sobre um monte que eu
te indicar” (Gn 22,1). Loucura que Deus pede, assim nós podemos pensar. É
demais para um coração de um ancião sacrificar o seu tudo, o seu Isaac. Deus
tinha o direito de pedir tamanha prova de fogo ao patriarca? Deus tem o direito
de pedir o tudo ao nosso Pai na fé? Deus tem direito de provar a minha fé e
pedir confiança no impossível? Como é
possível que exija dele também renuncia á realização da promessa? Abraão
sente-se, de fato, privado de tudo; do passado e do futuro; resta-lhe somente o
seu Deus. Vamos responder sempre com a liturgia, Deus pede tudo porque antes
tudo Du a nós, pecadores. Deu o seu filho único. A resposta do Pai Abrão é
dramática. Ele continua acreditando no amor e na fidelidade do Senhor. Esta fé
é proposta a todos no peregrinar do tempo da quaresma. Devemos abandonar o
pecado para acolher a graça libertadora da páscoa de Cristo.
Deus
Pai nos surpreende, poupa o Filho do Patriarca, mas não pouca o seu filho
unigênito. Deus deseja salvar a todos os homens, primeiro ao povo de Israel, os
descendentes do patriarca e depois toda a humanidade. O apostolo num grito de
fé e de anúncio de salvação em Cristo pergunta: “Se Deus está conosco, quem
será contra nós”? e prossegue , depois, imaginando que os pecadores estejam
sendo levados ao tribunal para o processo, mas ao chegar no tribunal é
surpreendido. Mas por que é surpreendido? Porque ninguém se apresenta para acusá-lo
e nenhum juiz se levanta para condená-los. Deus o único santo, justo,
poderíamos nos condenar, mas a surpresa
é comovente. Ele, o juiz justo e
cheio de compaixão. Escute bem: Deus amou tanto que integrou seu tudo para
salvar e não para condenar. Estou salvo para sempre em Cristo. Cristo não pode
pronunciar uma sentença de condenação, mas de salvação (v. 34). Mas alguém com
uma psicose legalista, uma catequese mal feita, uma leitura debilitada
condenatória poderia pensar os nossos pecados exigirão a nossa condenação. É
impossível porque Jesus morreu para destruir os pecados. Tirar o pecado do
mundo. Como poderá, então, Deus acusar e condenar aqueles pelos quais Cristo
morreu? O amor do Pai é gratuito e fiel, nossa infidelidade e desamor não
anulam a sua aliança.
Vamos
irmãos avançar em águas mais profundas.
Esta perícope do Evangelho de Jesus segundo Marcos é o coração da revelação de
Jesus aos seus no caminho rumo a Jerusalém. A pergunta de Jesus aos seus
discípulos, quem sou eu ? é respondida
por Pedro, “tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo,o messias”. Mas que tipo de messias? não o que Pedro
confessou messias glorioso, não o que o povo esperava, mas o messias servo
sofredor. O mestre enquanto caminha ensina o modo de ser messias. Ele “começou
a mostrar a seus discípulos que era necessário que fosse a Jerusalém sofresse [... ] que fosse morto e
ressurgisse ao terceiro dia (Mt 16,21). Da parte tanto de Pedro e dos
discípulos resistem em acolher o anuncio do mestre e as suas exigências de
”tomar a cruz” . É este o ambiente em que s situa a transfiguração de Jesus no
monte. “Jesus naquele tempo tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou
sozinho a um lugar á parte sobre uma lata montanha. E Transfigurou-se diante
eles” (Mc 9.2). Assim introduze os discípulos na realidade mais profunda do
Plano de Deus acerca do seu filho. Receberam de Jesus uma amostra grátis do
céu.Os mesmos que estiveram no monte da sua agonia no Getsêmani (mc 14,33). O
rosto e as vestes (sinal de imortalidade, de festa,do mundo divino repleto de
luz) de Jesus tornaram fulgurantes. Moisés (representa a lei) e Elias
(represente dos profetas) aparecem conversando, mas o que conversam? O
evangelista Lucas testemunha que Moisés e Elias que apareceram na sua
Gloria, falavam do dom da vida que Jesus estava para fazer (Lc 9,31). Uma nuvem
os cobre e uma voz do céu diz: ‘ este é
o meu filho, o eleito, ouvi-o” (Lc 9,35).
Por
um momento Jesus mostra a Gloria divina que ficará na mente e no coração para
sempre dos seguidores a tal ponto de imitá-lo depois no caminho do seguimento.
Mostra também que para entrar na sua “gloria” (Lc 24,26), deve passar pela cruz
de Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a Gloria de Deus sobre a montanha; a
lei e os profetas tinham anunciado o sofrimento do messias. A paixão de Jesus é
vontade do Pai: O filho age como servo de Deus. A nuvem indica a presença do
Espírito Santo que glorifica o Filho e os filhos de Deus.
Irmão
que graça extraordinária hoje, no tempo da Igreja participar da Gloria de
Cristo, mistério antecipado no sacramento da vida nova, pois segundo São Paulo,
pelo batismo o crente comunga na morte
de Cristo; é sepultado e ressuscita com ele ( Rm 6,3-4), a nosso união com o
Senhor é mais intensa comungando no Sagrado banquete.”Ó sagrado banquete, em que se
recebe Cristo e se comemora a sua paixão, em que a alma se enche de graça e nos
é dado o penhor da futura glória» Cristo eucarístico é este penhor de Glória”.
O evento da transfiguração antecipou para aos seus seguidores o esplendor da
páscoa, pois Cristo ressuscitado é nossa páscoa. E quando terminarmos a nossa
peregrinação na terra o nosso corpo mortal será transfigurado como o Senhor
transfigurado como o do Senhor. Desde agora, nós
participamos na ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que atua nos
sacramentos do Corpo de Cristo. A transfiguração dá-nos um antegozo da vinda
gloriosa de Cristo, «que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar
com o seu corpo glorioso» (Fl 3, 21). Mas lembra-nos também que
temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus» (Act 14,
22).
Termino com as expressivas palavras de Santo Agostinho acerca do
tema da transfiguração. “Era isso que Pedro ainda não tinha compreendido,
quando manifestava o desejo de ficar com Cristo no cimo da montanha – Isso, Ele
to reservou, Pedro, para depois da morte. Mas agora, Ele próprio te diz: Desce
para sofrer na Terra, para servir na Terra, para ser desprezado e crucificado
na Terra. A Vida desce para se fazer matar: o Pão desce para passar fome; o
Caminho desce para se cansar de andar; a Fonte desce para ter sede; – e tu
recusas-te a sofrer”. Escutemos o Filho amado do Pai. Amém!
Pe.
Humberto
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